O trato gastrointestinal contém trilhões de micróbios (conhecidos como microbiota intestinal) que desempenham papéis essenciais em nossa saúde. Estudos recentes têm demonstrado que o exercício altera independentemente a composição e a capacidade funcional da microbiota intestinal.


Os cientistas só recentemente começaram a apreciar o intestino humano como um complexo ecossistema de bactérias, arqueias, eucariotos e vírus que coevoluíram com os humanos ao longo de milhares de anos.

Conhecidos coletivamente como microbiota intestinal, esses micróbios podem pesar até 2 kg e são imperativos para a digestão do hospedeiro, função metabólica e resistência à infecção. A microbiota intestinal humana tem uma enorme capacidade metabólica, com mais de 1.000 espécies bacterianas únicas diferentes.


A colonização microbiana começa no nascimento e é significativamente influenciada pelo tipo de parto (vaginal ou cesariana) e dieta infantil (leite materno ou fórmula). Outros fatores, incluindo maior saneamento básico, redução da exposição à infecção através da vacinação, eliminação de enteropatógenos, ingestão dietética e exposição a antibióticos e drogas não-antibióticas também podem alterar a microbiota.

Existem vários mecanismos potenciais pelos quais o exercício pode alterar a microbiota intestinal.



1. O intestino delgado e grosso e contém cerca de 70% das células imunes do corpo. Alguns estudos em animais descobriram que o exercício altera as células de defesa, regulando negativamente as citocinas pró-inflamatórias e regulando positivamente as citocinas anti-inflamatórias e enzimas antioxidantes – produzindo fatores antimicrobianos. Da mesma forma, o exercício pode afetar a integridade da camada de muco intestinal, que desempenha um papel importante em impedir a adesão de micróbios ao epitélio intestinal e serve como um substrato importante para certas bactérias associadas à mucosa.


2. Exercícios de alto impacto e em ambientes quentes podem reduzir o fluxo sanguíneo intestinal em mais de 50%, com isquemia intestinal significativa, prejudicando transitoriamente a função da barreira intestinal.



O exercício reduz o tempo de trânsito no intestino grosso e demonstrou acelerar o movimento do gás através do trato gastrointestinal.


3. O treinamento físico também pode alterar a circulação entero-hepática dos ácidos biliares, com provável aumento da secreção de ácidos biliares e aumento da produção de ácidos biliares fecais. Os ácidos biliares são potentes reguladores da microbiota intestinal, e a ausência dessas moléculas está associada a alterações significativas nas comunidades microbianas intestinais. Assim, mudanças no pool de ácidos biliares podem alterar significativamente o microbioma intestinal com o exercício.

4. O exercício altera significativamente o fluxo metabólico (a taxa de renovação das moléculas através das vias metabólicas) e requer contração do músculo esquelético, que estimula a liberação de miocinas, metabólitos e hormônios neuroendócrinos que podem interagir direta ou indiretamente com o intestino através de uma interface comum com o sistema imunológico. Quantidades significativas de lactato são liberadas no sangue durante o exercício, o que pode alterar o pH intestinal se algum desse lactato for secretado no lúmen intestinal.


Há evidências que mudanças na diversidade e composição da microbiota intestinal podem se traduzir em uma redução na inflamação e nos sintomas gastrointestinais, bem como na modificação de centenas de metabólitos. Muitos deles são benéficos para o organismo (ácidos graxos de cadeia curta, ácidos biliares secundários etc.).


Em geral, efeitos positivos têm sido relatados, principalmente para melhorar a saúde do cólon, aumentando a diversidade da microbiota e o equilíbrio entre as comunidades bacterianas benéficas e patogênicas.  Estudos recentes concluíram que o exercício de fato produziu um efeito positivo na microbiota.
Contudo, são necessárias mais pesquisas para determinar quais desses mecanismos são responsáveis pela adaptação da microbiota intestinal ao treinamento físico.


Categorias: Gastroclinic

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