A esofagite eosinofílica é uma enfermidade que vem sendo reconhecida com frequência crescente nas últimas duas décadas.
É uma doença crônica e imunologicamente mediada do esôfago, caracterizada clinicamente por manifestações de disfunção esofagiana e histologicamente por inflamação predominantemente eosinofílica.
Desde o seu primeiro reconhecimento como uma doença distinta há quase 23 anos, tem havido um aumento em sua prevalência em muitas partes do mundo e um número crescente de estudos publicados, inclusive documentos de consenso e diretrizes para a prática clínica.
Embora inicialmente descrita na América do Norte e na Europa, a doença é um fenômeno global sendo relatada em outras regiões, inclusive a América do Sul e Central, África e Ásia.
A incidência anual é de 12,8 casos por 100.000 habitantes e a prevalência, de 43/100.000. A doença atinge sobretudo o sexo masculino. Nos adultos, acomete a terceira e quarta décadas de vida, embora possa ocorrer em qualquer faixa etária. A prevalência de atopia entre esses pacientes é elevada, chegando a 81% em alguns estudos.
O que são eosinófilos?
Eosinófilo é um dos glóbulos brancos do sangue que desempenha papel importante na resposta do organismo a reações alérgicas e infecções por parasitas. Participa da imunidade protetora, mas também contribui para a inflamação que ocorre em distúrbios alérgicos.
Eosinófilos no Aparelho Digestivo!
Em condições habituais e não patológicas, o trato gastrointestinal é o único órgão não hematopoiético (ou seja, formador de glóbulos sanguíneos) que contém eosinófilos. Em indivíduos saudáveis, quantidades variáveis de eosinófilos podem ser encontradas na maior parte dos segmentos, com exceção do esôfago. A maior concentração de eosinófilos é observada nas regiões do ceco e do cólon ascendente.
Etiologia da Esofagite Eosinofílica?
Embora não se tenha exatamente definidas as causas, sabe-se que ocorre uma interação entre fatores ambientais e predisposição genética de cada paciente. Há associação entre esofagite eosinofílica e outras doenças alérgicas. O fato de a maioria dos pacientes apresentar melhora com dietas de exclusão ou de eliminação reforça o papel da alergia alimentar no desencadeamento do processo imunológico.
Quadro clínico
Os sintomas variam de acordo com a faixa etária, manifestando-se, em lactentes, por recusa alimentar, irritabilidade, vômitos e déficit ponderostatural; em crianças, por dor abdominal, vômitos, sintomas de refluxo gastroesofágico, aversão à alimentação e também déficit de ganho de peso e crescimento; em adolescentes, por disfagia, impacto alimentar no esôfago, náuseas, sintomas de refluxo e dieta bem limitada; e, em adultos, por disfagia, dor epigástrica e impacto de alimentos sólidos no esôfago.
É comum a associação com doenças alérgicas como alergia alimentar, asma, eczema, rinite crônica e alergias ambientais que afetam 28-86% dos adultos e 42-93% das crianças.
Diagnóstico
Os exames físicos são úteis em crianças para identificar padrões normais de crescimento e em crianças e adultos para identificar doenças alérgicas comorbidades; no entanto, nenhuma característica do exame físico é específica no diagnóstico da doença.
Exame complementar
A doença é diagnosticada por meio da história clínica e a endoscopia digestiva alta com biópsia, que mostra a presença de eosinófilos apenas na mucosa esofágica.
A biópsia deve cobrir os três terços do esôfago, independente da presença ou não de alterações, pois em até 25% dos casos, o aspecto endoscópico pode ser normal.
Essa biópsia evidencia a presença de 15 ou mais eosinófilos por campo de grande aumento.
Aspectos endoscópicos
Estrias longitudinais, friabilidade, edema, placas ou exsudatos esbranquiçados, traqueização do esôfago (anéis concêntricos), mucosa em “papel-crepom”, estreitamento no segmento proximal do esôfago e ausência da trama vascular.
Esofagografia – exame radiológico realizado com bário – pode mostrar anéis circulares empilhados, esôfago de calibre estreito ou estenoses, mas sua indicação é para casos selecionados.
Frequentemente realizam-se testes para alergias alimentares a fim de identificar possíveis gatilhos; alternativas incluem testes cutâneos, exame radioalergoabsorvente (RAST) ou uma tentativa de dieta de eliminação.
Tratamento
Os objetivos:
Diminuir os sintomas
Reduzir a densidade de eosinófilos no esôfago em mais de 90%
Indicados:
Corticoides tópicos
Bloqueadores de bomba de prótons
Dieta de eliminação
Às vezes, terapêutica endoscópica
Corticosteroides tópicos deglutidos, inclusive fluticasona e budesonida viscosa, mostraram boa resposta clínica, melhorando os sintomas e histológica, diminuindo a densidade de eosinófilos no esôfago. Corticosteroides sistêmicos promovem mais efeitos colaterais que benefícios.
Estudos mostram que 30 a 50 % dos pacientes adultos e crianças com suspeita de esofagite eosinofílica responderam ao tratamento com inibidores de bomba de próton – também com resultados clínico e histológico.
Estratégias de terapia dietética:
Eliminação total de todos os alérgenos alimentares com fórmula elementar, baseada em aminoácidos;
Dieta de eliminação, guiada por testes de alergia;
Dieta empírica de eliminação dos seis grupos alimentares mais comuns que desencadeiam alergias: soja, ovo, leite, trigo, trigo, nozes e frutos do mar.
É importante, à semelhança da alergia alimentar, encaminhar os indivíduos para avaliação com equipe de Nutrição.
Terapêutica endoscópica
Uma das complicações mais graves da doença é o estreitamento do esôfago secundário a estenoses fixas, que causam impactação alimentar.
Os pacientes com estreitamentos importantes podem precisar de dilatação esofágica cuidadosa utilizando um balão ou dilatador esofágico; realizam-se múltiplas dilatações progressivas cuidadosas para ajudar a evitar lacerações ou perfurações esofágicas.
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